Queria
começar este texto por me apresentar. O meu nome é António Pereira, comecei a
jogar basquete em 1969, tendo tido como primeiros treinadores os-jogadores Reis
Pires e o Carlos Hilário. Fiz um trajecto de praticante na AAC até Junho/Julho
de 1974 passando a representar nessa altura o Clube Académico de Coimbra onde
me sagrei campeão Nacional em 1978 e 1979 e vice-campeão em 1977. Deixei de
jogar em 1981, altura em que ingressei na Escola de Fuzileiros Navais. Depois
de regressar do meu período militar passei a exercer as funções de treinador o
que já fazia aliás, estimulado pelo ambiente que havia nessa altura e que
envolvia as pessoas na secção na sua vida. Em 1991 fui o treinador principal da
equipa sénior da AAC que se sagrou campeão Nacional da II Divisão (segundo
nível de competição em Portugal na altura).
Embora
a minha actividade profissional seja regulada pelo decreto lei nº 28/1998 e que
me impede de exercer qualquer actividade no basquetebol para além da que
exerço, não posso e nem devo deixar de ter uma opinião sobre o que se passou e
se está a passar na AAC-secção de basquetebol, porque, foi onde eu recebi
ensinamentos que contribuíram para eu me formar como homem, e sempre esperei
que a secção continuasse a dar esse contributo aos jovens que por lá passassem,
e também porque este ciclo começou com o Dr. Cassiano Afonso e pelo apelo que
me fez á cerca de dez anos atrás de que era o de tornar a secção de basquetebol
uma secção com a dimensão que a sua história exigia.
Ao
longo destes quase dez anos nem sempre me mantive por perto. Alguns anos nem
sequer entrei no pavilhão. Lembro-me que o meu filho que este ano voltou a
jogar, a convite de alguém, me perguntou no inicio da época se este era um dos
anos que vais ao pavilhão ou dos anos que não vais ao pavilhão ?
Feita
esta introdução passava aos temas que gostaria de abordar, visto que já se
escreveu muita coisa, deram-se muitas opiniões e eu quero aqui deixar a minha.m
Um
pouco de história: a secção de basquetebol da AAC é uma
das mais prestigiadas da Académica. Para isso muito terá contribuído os seus
títulos de campeão nacional quer no sector masculino quer no sector feminino
mas também pelo nível de organização que teve. Tenho que os dirigentes e
treinadores da AAC, sempre foram bastante competentes e exigentes com a
qualidade que pretendiam que a AAC tivesse nos mais diversos níveis. Por isso
desde os anos 70 que a secção foi obrigada a recorrer a pavilhões externos ao Estádio
Universitário porque essas instalações já não eram suficientes na altura, para
o melhoramento das suas equipas. Mais tarde passou-se a usar o OAF, fruto do
protocolo que havia. Aquando da eleição do presidente José Eduardo Simões, o
basquete acabou por ter de sair destas instalações porque foi empurrado de lá
para fora ao não lhe serem atribuídas nem horas suficientes de treino, nem em
horas decentes. Graças á CMC o basquete passou a utilizar o novo pavilhão
embora haja sistematicamente constrangimentos de uso devido á organização de
eventos nesse espaço, o que leva a que a equipa não treine amiúdes como é
exigido. Em 1991 utilizou-se o Estádio Universitário (quando eu era treinador)
mas os obstáculos eram enormes, tais como não se podia treinar porque os
funcionários estavam de férias, ou amanhã não se pode treinar porque é feriado,
etc. Nenhuma equipa de competição pode estar condicionada por situações destas.
Devido
a situações como estas o orçamento da secção de basquetebol da AAC aumentou
consideravelmente. Claro que as outras secções desportivas e departamentos autónomas
da AAC não tem culpa da ambição dos dirigentes da AAC, nem tem culpa de que
eles queiram fazer algo em que acreditam como mais válido, mas esta foi uma
realidade que não deixa de ser verdadeira.
Dividas:
Para além do que se sabe publicamente sei pouco mais. Mas até por forma a não
se colocar no mesmo barco todos os dirigentes, era conveniente que a DG
(Direcção Geral da AAC), CD (Conselho Desportivo da AAC) e CF (Conselho Fiscal
da AAC) e por ventura ex-presidentes, esclarecessem as contas com pormenor
nomeadamente quanto ao valor da divida apurada e discriminá-la ano por ano por
forma a sabermos quem foram os responsáveis por ela. Ainda ontem o
ex-presidente Carlos Gonçalves fazia declarações num órgão de comunicação
social em que afirmava que o passivo era quase o mesmo que tinha encontrado.
Depreendo portanto que na época de 2012/2013 as contas não derraparam
significativamente. Aquando da saída do ex-presidente Mário Castro (geriu a
época de 2011/2012) afirmou no seu profile do facebook que deixava a secção
sem dívidas e não foi contestado, embora se soubesse na altura que isso não era verdade. Assim a divida é de que ano ou anos ? quem foram os responsáveis ? como é que cada um contribuiu para esse valor ? só dessa forma é que poderemos saber como é que que cada direcção contribuiu para o valor tornado agora público e que se cifra entre duzentos e cinquenta a trezentos mil euros.
É
obrigação da DG o CD e CF, esclarecer esta situação para que se faça justiça
aos bons e imputar responsabilidades aos maus dirigentes. É um dever na minha
opinião. Ainda sobre este assunto devem os estatutos da DG, serem alterados para
que as contas sejam entregues a zero no fim do mandato e recebidas a zero pela
nova direcção de cada seção ou departamento autónomo, contribuindo assim para
uma melhor imagem da AAC e para uma sustentabilidade da Associação Académica de
Coimbra.
Gestão
Desportiva-época de 2013/2014: A opção estratégia de
um departamento de basquetebol deve estar em consonância com uma filosofia de
gestão mas também com os apoios financeiros existentes. Quando existe uma
divida de muitos milhares de euros e não há apoios financeiros é claro para mim
que a opção estratégia de continuidade de uma equipa só podia dar em problemas
e não era realista e isto foi o que feito na secção de basquetebol da AAC pelos dirigentes actuais João Bigotte e José Luis Gonçalves. Foi
negociado um orçamento e prometeu-se a vinda de x jogadores seniores e de x
jogadores estrangeiros.
A
pergunta é como isto é possível se não há dinheiro ? Não seria mais correcto
dizer aos treinadores (Jacinto Silva e Paulo Santos) e aos jogadores seniores
que restaram da época passada e que são pessoas de referência na AAC (Fernando
Sousa, Bruno Costa e Pedro Rebelo) que não havia dinheiro e portanto não era
possível dar continuidade á ideia que o actual presidente escolheu.
E
é precisamente por aqui que as coisas se complicaram. Quer treinadores quer
jogadores nunca estiveram motivados para um outro tipo de projecto e nunca lhes
foi dito que era assim ou teriam de romper a relação porque não havia
condições. Foi sempre dada a ideia de que se ia resolver a situação e isso
nunca aconteceu.
Era
da responsabilidade dos dirigentes da secção de basquetebol da AAC, João Bigotte e José Luis Gonçalves, redefinirem a sua estratégia, e dá-la a conhecer aos interveniente, deixando que estes
tomassem a decisão quanto ao seu envolvimento. Isto permitiria que todos os
que dissessem sim estivessem no barco de livre e espontânea vontade, e
embebidos de um espírito de ajuda e solidariedade entre eles ou que saíssem. Ora
isto não aconteceu e a culpa é única e exclusivamente dos dirigentes da secção
de basquetebol.
Aliás
sabendo das dificuldades financeiras da secção eu próprio, juntamente com o
ex-jogador Zé-To Gaspar, ex-dirigente João Medeiros e ex-dirigente João Pedro
Chicória tomamos a iniciativa de angariar algum dinheiro para a secção de
basquetebol, através de um envio de email para pessoas com passado ligado á
AAC, e que foi então mal recebida pelo actual presidente da secção. Pensamos
nós na altura que todo o dinheiro era bem-vindo mas não. Fomos enxovalhados
publicamente e colocada a nossa dignidade e honradez em causa. Para quem tinha
arranjado zero e arranjou zero, devia ter sido mais bem-educado e mais bem
agradecido. Continuo e continuamos á espera de um pedido de desculpa público
com o mesmo relevo com que foi dado na altura aquando dessa iniciativa. Foi ainda
contactada a Escola Superior de Educação para que pudesse ser colmatar a falta
de recursos humanos da secção, no sentido de saber se estava disponível para
estabelecer um protocolo com a secção de basquetebol da AAC, no sentido de ter
ao seu dispor alunos de diversos cursos para operacionar um gabinete de
comunicação e marketing. A resposta foi positiva mas nunca foi colocada em
prática pelos actuais dirigentes.
Quanto
á formação o panorama é ainda pior. Duas faltas de comparência, uma no sector
masculino por falta de transporte, e uma no sector feminino por falta de
jogadores em número suficiente para inscreverem no boletim de jogo. Pelo meio
fica o episódio da marcação de dois jogos com uma hora de intervalo, o que não
é suficiente como se sabe, e sem boletim de jogo o que não é possível face aos
regulamento do material necessário para a realização de um jogo. Quanto aos
minis, a situação é caótica. Gerida por uma instituição (Caspae) que os pais nunca
aceitaram, nunca foi bem gerida de forma satisfatória, e custa dinheiro á
secção. Assim, devido á desorganização da secção (porque a empresa representa a
secção neste caso) saíram dezenas de atletas que se encontram a treinar no
pavilhão do OAF em representação de outro clube (ainda bem que não deixaram a
prática da modalidade) e com as tabelas da AAC (ironia do destino).
Oportunidades:
Quando
elementos do governo disseram que a crise era no fundo uma oportunidade, ou que
os jovens deviam imigrar e que isso era uma janela de oportunidades o que é que
aconteceu ? todos disseram para serem eles a imigrar. Agora porque razão o
acabar com uma equipa é uma oportunidade ? Oportunidade de quê ? oportunidade
para quem ? É claro que o que se passou na secção de basquetebol não é
condizente com uma prática de gestão desportiva responsável mas acabar com uma
equipa não é igualmente uma atitude responsável na minha opinião, pelo menos
nas circunstâncias que esta ocorreu porque só ocorreu por falta de coragem e de
diálogo na colocação em prática de uma estratégia de gestão realista e em
consonância com os valores da AAC.
Responsabilidades:
No dia de acção de graças, que os americanos celebram como a reunião da
família, foi a família do basquetebol confrontada com mais uma decisão que
andava no ar.
Que
ninguém deite as culpas á DG e ao CD que no fundo cumpriram com aquilo que
disse que podia acontecer. Que ninguém deite igualmente as culpas á FPB que
peca apenas por falta de adequação dos seus regulamentos quanto ao montante
financeiro que uma equipa precisa de ter (cerca de cinquenta mil euros) para
disputar uma competição tida como amadora-Liga Portuguesa de Basquetebol. As
responsabilidades são de quem dirige e que não soube assumir esse papel.
O
meu coração, que no passado já sofreu, hoje jorra lágrimas de dor por mais esta
machadada no amor da minha vida.
3 comments:
Partilho da tristeza do António Pereira. Não conheço bem a história que conduziu a este desfecho, mas parece-me que é altura para se fazer um grande debate sobre o basquetebol em Coimbra e em especial na AAC. É uma história demasiado bonita e vencedora para que a reflexão fique reservada a alguns. Faço eta declaração em nome pessoal, enquanto antiga jogadora e apaixonada pela modalidade, tal como o António. Helena Freitas
Pereira não sei quem são as pessoas que hoje lideram a seção, estou muito afastado, e penso não ser isso que importa mais neste momento.
Aprendi que na vida somos avaliados pelos resultados. Numa equipa desportiva os resultados estão dentro do campo e fora dele na organização que a enquadra. O desporto há muito tempo já nos ensinou que para mudar os resultados temos de mudar a forma como trabalhamos ou/e as pessoas. Saí de Coimbra em 1996, entrei duas vezes num jogo da Académica desde então, reparei que as pessoas são as mesmas... por isso duvido, sem personalizar, que a forma de trabalhar seja diferente. Enquanto o mundo se transforma as organizações têm de fazer o mesmo, quem não o faz morre.
Sinto que é o que tem acontecido com a modalidade do basquetebol em Portugal, penso que hoje este é o risco que o basquetebol da ACC corre uma vez mais na sua história... permite-me só esta provocação para todos os que se importam com a situação - não basta dizermos mal quando as coisas correm mal.
Precisamos de lá estar, disponíveis, quando é para ajudar nas oportunidades que vão surgindo, seja em eleições, seja noutros momentos. No pouco que eu possa ajudar estou disponível, pois o basquetebol da ACC tem aquilo que poucas equipas têm em Portugal - uma história que alimenta a alma de todos os que acompanham as suas equipas. Um abraço!
Mário
Li atentamente o que o António Pereira escreve no seu blog, lamentando uma coisa.
- O ex Presidente Mário Castro não afirmou NUNCA que deixou a SB sem dívidas. Afirmou e pode sr provado, que não aumentou o passivo e até o baixou, tendo pago muitas das dívidas que encontrou, como pode bem atestar os tesoureiros desse mandato, o António Vaz e o João Chicória.
Não querendo chover no molhado, poderei dizer que só no 1º mês e sem ainda com competoção pagámos cerca de 20 mil euros para que a AAC pudesse competir.
Além destas testemunhas podem juntar o Dr.Maló de Abreu e o ex vereador Luis Providência.
Já agora, tenho estado muito calado sobre estes assuntos e pretendo continuar assim.
Mas não me obriguem a dizer mais do que quero
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