2ª Parte
A ausência de público nas bancadas
será pela falta da qualidade das decisões ou pela ausência de um conteúdo com
qualidade?
Foi com esta pergunta que terminámos
a primeira parte deste artigo. Uma questão que surge na sequência da repetição
de imagens de poucos espectadores nos pavilhões, de informação com lacunas e
erros grosseiros no site da Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB), de
jornais que falam muito do basquetebol americano e raramente do basquetebol
português. Face a isto, colocam-se novas dúvidas…
- Será que o basquetebol português
não tem dirigentes e treinadores capazes de encontrar soluções que façam
despertar o interesse do público (adeptos e fans)
para assistirem a um evento/jogo de basquetebol?
Quando era jovem existia uma frase que dizia “sem palhaços, não há
circo”. Sem bons praticantes não há jogo capaz de despertar o interesse do
público (adeptos e fans).
Precisamos
de basquetebolistas de qualidade e que se tornem referências da competição e isso
contribuirá não só atrair público (adeptos e fans) mas também praticantes que se inspiram nesses modelos. É fundamental!
Outros fatores ou indicadores podem
contribuir para o sucesso de uma modalidade. O número de praticantes e o seu
crescimento sustentado são um sinal claro da popularidade da modalidade.
O nível da arbitragem também ajuda a
construir a imagem da competição. Se a forma como os juízes julgam as ações
dentro do campo forem consideradas isentas, rigorosas e justas, estes dão um
contributo para uma imagem positiva da competição.
A qualidade da instalação desportiva
é igualmente importante. O conforto, linhas de marcação bem definidas (se
possível apenas de basquetebol), marcador, boa luminosidade e o acesso à
internet é fundamental no engajamento do público (adeptos e fans) no espetáculo
desportivo 4.0.
O contributo dos jornalistas e
comentadores é fundamental desde que demonstrem conhecimento da modalidade, do
jogo, dos praticantes, preferencialmente na vertente espetáculo (desde que não
a transformem num circo), proporcionando um esclarecimento sóbrio aos leitores
e ouvintes, permitindo aumentar as leituras e captar audiências das suas
publicações, o que levará, igualmente, ao incremento do número de pessoas nos
recintos desportivos.
Como conclusão, podemos dizer com
segurança que para uma modalidade ter sucesso necessita de dirigentes com
visão, que definam e apliquem eficazmente uma estratégia de gestão desportiva,
gestão financeira, gestão do marketing e comunicação, no sentido de levar a
organização desportiva a ganhar, a proporcionar espetáculo, a desenvolver uma relação
com a comunidade em que está inserida e a criar, ao mesmo tempo, uma relação de
compromisso entre a organização e os seus adeptos e fans e outros stakeholders.
A modalidade precisa igualmente de
treinadores que liderem a sua equipa rumo ao êxito através da escolha de
estratégias que lhes permitam ganhar jogos e competições, mas sem descurar o
espetáculo desportivo e o entretenimento dos adeptos e fans.
O reconhecimento da qualidade das
decisões dos dirigentes e treinadores é importante, daí muitos deles se
tornarem protagonistas e ícones da
organização desportiva, da competição ou da modalidade.
Contudo, a entrada numa instalação
desportiva por parte do público tem como objetivo ver a bola a entrar no cesto,
preferencialmente muitas vezes, em movimentos só ao alcance de autênticos
deuses, e que o seu clube vença.
As pessoas querem ver o seu clube a
ganhar, mas querem ver atletas de eleição, querem ver o Stephen Curry, Giannis
ou LeBron James, no futebol o Ronaldo ou Messi, tal como no passado recente quiseram
ver o Magic Johnson, Larry Bird e Michael Jordan e no futebol o Zidane e Figo e
ainda antes o Wilt Chamberlain, Bill Russel, Bob Cousy ou Jerry West e as
estrelas do futebol Eusébio ou Pelé.
Os atletas são os dínamos da
afluência de público nas bancadas, do clubismo e do mediatismo de uma
modalidade. É desta forma que o sucesso de uma modalidade tem de ser construído
e medido.
Os adeptos não vão ao pavilhão para
verem os dirigentes ou os treinadores, embora estes sejam fundamentais e
decisivos. Aos primeiros, reconhece-se a capacidade de liderança e o mérito
pela visão e gestão da organização desportiva. Aos segundos, identifica-se a
competência a liderança do grupo e ambição no desempenho das suas funções. Mas
são os jogadores, especialmente nesta era digital, que comunicam melhor com os
adeptos e fans e capazes de se
relacionarem com estes através das redes sociais e diversas plataformas
digitais.
Um jogo sem público significa que o
espetáculo oferecido aos adeptos e fans não
tem qualidade, independentemente de a comunicação poder não ter funcionado da
melhor forma.
Reconheço que a FPB tem feito um
esforço, contudo a ausência de uma visão partilhada entre os diversos agentes
da modalidade leva a que o basquetebol não descole da situação em que se
encontra há diversos anos.
Nem as transmissões televisivas, que
se tornaram possíveis devido á entrada verbas proveniente do Placard, previstas
no Regime Jurídico da Exploração e Prática das Apostas Desportivas, conseguem
impulsionar o basquetebol português.
Não se pode perder mais tempo na
aplicação de um business plan
inovador e que demonstre um alinhamento de ideias consistentes e coerentes
entre as diversas partes envolvidas na gestão da competição. Se tal não vier a
acontecer, dificilmente o basquetebol voltará a ser uma modalidade de
referência em Portugal na área da indústria desportiva e do espetáculo.
Fica uma última pergunta: a ausência
de público nas bancadas será pela falta da qualidade das decisões ou pela
ausência de um conteúdo de qualidade?
António Pereira
António
Pereira, é licenciado em Comunicação Organizacional com as especialidades de
Comunicação de Marketing e Comunicação de Relações Públicas, Mestre em
Marketing e Comunicação e escreve sobre Gestão do Desporto, Marketing e
Comunicação do Desporto no blog https://apbasketball.blogspot.com/