Terminado
o processo eleitoral e com a nova direção da FPB em pleno exercício das suas
funções, deve o basquetebol português começar um novo ciclo e como consequência
disso este é o meu último texto de um conjunto que teve início em março de
2014.
Desde
á muitos anos, que me parece claro que o basquetebol não podia e não devia
seguir por trilhos que não levam a caminho algum, e depois de publicado o
primeiro texto, senti um grande apoio em relação às ideias então difundidas
através no meu blog.
Nesse
primeiro artigo, fui claro em relação a dois temas, e deixei outros um outro
tema de fora, porque na altura, não tinha um conhecimento suficiente sobre ele.
Em
relação ao primeiro tema abordado e que era a composição da lista, reafirmo
aquilo que escrevi. Precisamos de pessoas apaixonadas pelo basquetebol, que
pensem basquetebol 24h por dia, que nas suas áreas de intervenção sejam pessoas
de referência e que sejam capazes de adicionar qualidade a uma equipa que se
quer multidisciplinar. É possível gerir a FPB com uma equipa constituída de forma
diferente? É claro que sim. Tudo depende da visão do líder e o quanto este
acredita no trabalho da equipa e como quer interagir com ela. Cada vez mais as
equipas de trabalho são a grande diferença nas organizações e a liderança é
fundamental para criar uma visão, valores, e ética, que permitam construir
parcerias de sucesso. Por mim prefiro uma equipa que meta as mãos na massa como
se costuma dizer, porque os diversos tópicos têm de ser dominados pelos diversos
vice-presidentes auxiliado pelos colaboradores federativos, sendo que para tal
devem ter conhecimento dos temas e que sejam capazes de tomar decisões. Não é
necessário que todas as pessoas estejam localizadas em Lisboa, antes pelo contrário.
O não estar localizado em Lisboa pode traduzir-se numa vantagem pelo conhecimento
da realidade local e o de fazer envolver as pessoas das suas regiões. No que eu
tenho dificuldades é em acreditar que uma gestão que não está presente
fisicamente e que quer fazer uso das novas tecnologias por forma a comunicar, seja
capaz de ter melhores resultados do que uma gestão presencial. Se assim fosse já
as maiores empresas do mundo teriam adotado este tipo de gestão.
No
que diz respeito ao tema marketing e comunicação parece-me que existe uma
grande confusão e isto porque a maior parte das pessoas não sabem o que é que
estas palavras significam e leva-as a confundi-las. Comecemos por dizer que
marketing é uma coisa e que comunicação é uma ferramenta do marketing.
Comunicar é aquilo que nós fazemos no dia-a-dia, usando as nossas palavras, os
nossos gestos, a nossa escrita, etc. Marketing é criar necessidades, desejos,
procura, tendo em conta o produto, o valor deste, e o mercado onde está
inserido. Marketing e comunicação não são a mesma coisa e publicidade também
não. Á mesmo quem confunda ainda mais marketing e publicidade. Só por
desconhecimento se pode desvalorizar que o marketing não deve estar presente na
chamada alta gestão. Só uma gestão integrada do produto (gestão desportiva do
basquetebol que é o produto), com a gestão do marketing e comunicação é que
pode levar á concretização da visão a que se propõem. Se assim não for o
resultado é quase sempre desastroso e por isso não deve ser tentado. O que é
que isto implica? Implica que sempre que sejam tomadas decisões ligadas ao
produto (gestão desportiva da modalidade basquetebol) o departamento de
marketing terá de estar por dentro das decisões e muitas vezes será este mesmo
a dar indicações/sugestões que orientem e condicionem as decisões da gestão do
produto (gestão desportiva do basquetebol). Por vezes e muitas vezes na minha
opinião deverá ser o departamento de marketing a sugerir ideias ao departamento
da gestão desportiva. E que decisões podem ser essas? Em primeiro lugar levar a
cabo estudos de mercado. Quantos somos? Quantos nos vêm? E como nos vêm? Que tipo
de basquetebol gostam de ver? Que opiniões têm sobre as nacionalidades dos
jogadores? O que é que se espera da formação? Que preços estão disponíveis para
pagar para ver um jogo de basquetebol? Que papéis os pais desempenham na gestão
dos clubes? Que influências têm no desempenho do jovem jogador? Estas serão
somente algumas das perguntas que nos permitem perceber como podemos desenvolver
o produto basquetebol. Assim parece-me muito difícil que alguém que não esteja
dentro da direção da FPB seja capaz de tomar decisões desta natureza, visto que
o marketing deve ser orientado para o consumidor e para a sua satisfação e por
isso há que ver para além do simples produto sendo que o mix de comunicação deve ser integrado usando as diversas
ferramentas de que dispõem. Como tal dizer que vamos procurar patrocínios, que
vamos vender merchandising, que vamos
isto ou aquilo é só uma promessa baseada num conhecimento empírico, num
conjunto de intenções e em algo de que se ouviu falar ou leu, e isso não
acrescenta nada a um plano estratégico do basquetebol nacional.
Hoje
em dia muitas empresas têm um departamento de marketing (diria que a um
determinado nível todas têm um departamento de marketing), e quando decidem
apoiar uma modalidade ou um clube querem saber qual o retorno do seu
investimento. Que retorno pode dar o basquetebol atualmente? Não sabemos! Não
temos a informação que atrás referi e que precisamos, e daí podermos pensar que
o valor que o basquetebol tem atualmente será zero ou próximo disso. E esta
afirmação baseia-se no número de espetadores ao vivo nos jogos, na cobertura da
modalidade pela comunicação social escrita, pelo número de transmissões
televisas, pelo número de inserções também nas redes sociais. Como podemos
alterar isso? Com uma equipa de gestores desportivos e uma equipa de gestores de
marketing que trabalhem em equipa e que procurem soluções. Todas as promessas
que não tenham em conta esta abordagem não são sérias e são irresponsáveis. Por
exemplo um bom exemplo de como as coisas não funcionam ao nível da comunicação
é o sítio da FPB. Não sei quem é que trata da área do marketing digital, de
quais os meios de que dispõem, que orientações têm, mas posso afirmar que o que
é feito é pouco, muito pouco. Se queremos um basquetebol online então teremos de estar disponíveis para trabalhar ao sábado
até às horas que forem necessárias e o mesmo ao domingo. Este é uma área muito
sensível e que é fundamental. As pessoas têm de ter acesso á informação na hora
e se estão mais do 10segundos á espera que a página descarregue a informação o
mais natural é mudarem de página. Quem quer saber o resultado amanhã ou passado
muitas horas? Um assunto a resolver com carater urgente aproveitando os bons
colaboradores que a FPB terá. A melhoria da qualidade da comunicação da FPB
passa também por isto.
Um
tema que não abordei por simplesmente não ter conhecimento sobre ele na altura foi
o tema relacionado com o estado das finanças da FPB. É preciso saber qual é
realmente o atual défice, quais as receitas provenientes do estado, dos
patrocínios e outras fontes de receita. Sabemos que existe um buraco financeiro
nas contas da FPB e Mário Saldanha sempre se disponibilizou para me proporcionar
toda a informação que eu necessitasse. Por isso acho que posso afirmar que para
inverter este cenário é fundamental reduzir custos na máquina da FPB e aumentar
receitas. Face à conjunta atual não vejo com qualquer possibilidade de sucesso
o incremento das receitas provenientes do estado. Assim a única alternativa de
aumentar as receitas de uma forma consistente é tornar o basquetebol num
produto, sendo necessário para isso elevar os diversos padrões inerentes á
competição nomeadamente qualidade dos planteis, do basquetebol praticado, do
espetáculo produzido (oferecido ao público), da organização do evento, da
organização da competição, da promoção da competição, da promoção do evento, da
criação de um departamento de marketing e comunicação na FPB (parece que
existe) e em cada clube, levando ao interesse por parte das televisões pelo
basquetebol, e consequentemente o aparecimento de patrocínios. As empresas
patrocinadoras só se interessarão pelo basquetebol se tiverem a perceção do
retorno do investimento quer este seja financeiro quer seja em imagem por
estarem associados ao basquetebol. É igualmente importante trabalhar com as
associações distritais igualmente nesta áreas por forma a não só haver uma
descentralização mas um enriquecimento do basquetebol regional. O basquetebol
tem de ser popular e seguido ao nível nacional e não só em determinadas
regiões. Muitas outras ideias podiam ser aqui apresentadas mas parece que um
conjunto de ideias demasiado exagerado não se foca sobre o essencial e neste momento
o essencial e o possível é que é importante. Um conjunto demasiado extenso
leva-me a pensar que copiamos o texto de um qualquer manual académico por forma
a abrangermos tudo o que lá está escrito e não é isso que se pretende ou que
vai nos levar ao sucesso. O que se pretende é obter resultados palpáveis através
das ideias que podem ser incrementadas tendo em conta que não há receitas
Como
notas lamento que a campanha eleitoral tenha sido levado a cabo para dentro e
não para fora. Mais para as associações e delegados e menos para as restantes
pessoas do basquetebol. Muitas promessas e só no futuro se verá o que foi cumprido.
Como
conclusão gostaria de dizer que sem uma visão clara e uma ação conjunta e firme
destes setores, sem uma envolvência dos clubes quer ao nível dos dirigentes,
treinadores, e jogadores não é possível alterar o estado em que se encontra o
basquetebol. Aos juízes e oficiais de mesa espera-se que contribuam para um
basquetebol mais transparente quanto ao vencedor e possibilidade de ver os espetáculos
possíveis ao longo da época desportiva. Mais que fazer documentos longos e
extensos ou propostas demagógicas o que era preciso era apontar soluções que
não levantassem quaisquer tipos de dúvidas relação a estes temas e isso
parece-me que ficamos além do esperado.
Cabe
no futuro tal como no passado á direção da FPB colocar os agentes da modalidade
em consonância e guiar o basquetebol para outro nível de espetáculo ao nível
sénior e de uma formação que esteja mais de acordo com os desafios que os
jovens gostam, que querem e necessitam de ter no século XXI.
Durante
este período escrevi catorze textos, procurando contribuir para uma discussão
séria sobre o basquetebol português de uma forma construtiva e a apresentando
propostas concretas para determinados problemas. Agradeço aqui os contributos
dados por diversas pessoas que estão tão empenhados e que amam o basquete da
mesma forma que eu, agradeço igualmente todos os tipos de comentários que foram
feitos, os emails respondidos ou telefonemas simples que proporcionaram
conversas agradáveis, e que vieram por parte de diferentes pessoas ligadas ao
basquetebol.
Este
é o último artigo que é publicado no meu blog
(http://apbasketball.blogspot.pt/). No futuro, não quero que haja qualquer tipo
de interferência entre a minha atividade profissional e a minha opinião como
pessoa ligada ao basquete desde 1969. Assim um novo espaço acolherá os meus
textos e que será divulgado oportunamente.
Aos
agora eleitos, o desejo de boa sorte no desempenho das suas funções. De mim, podem
contar com a minha paixão pelo basquetebol e com uma cidadania ativa no sentido
de ajudar a que o basquetebol ultrapasse as dificuldades atuais.
António
Pereira
No comments:
Post a Comment