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Sunday, September 11, 2011

E depois do Europeu 2011 ?

Já tinha confidenciado a amigos que faria uma análise à Selecção Nacional portuguesa após o Campeonato da Europa. Depois de ler o texto do prof. Jorge Araújo num órgão de comunicação social, sobre o estado do basquetebol português entendi que deveria antecipar esse momento. Assim, num dia de tantas recordações, e depois de ler o referido texto, devo dizer que fiquei algo decepcionado, porque o considero uma pessoa de referência do nosso basquetebol e porque muitos de nós que permanecemos no basquetebol de uma forma activa já tínhamos chegado, há muito tempo, às diversas conclusões que ele aponta. No entanto, não deixo de registar o seu contributo, juntando-se assim às vozes que acham que o basquetebol tem e deve tomar uma direcção diferente. Conheci o prof. Jorge Araújo quando veio para Coimbra como treinador da AAC em 1973, onde foi meu treinador. Aí, deu início a um ciclo que daria 3 Campeonatos Nacionais de Juvenis (hoje chamados cadetes), 2 Campeonatos Nacionais de Juniores, 1 Campeonato Nacional da Terceira Divisão e 1 Campeonato Nacional da Segunda Masculina, 1 Campeonato Nacional da Segunda feminina e 1 Campeonato Nacional da Primeira feminina com o CAC. Com ele treinávamos todos os dias nas férias e sempre que o calendário escolar o permitia duas vezes por dia. Só com a quantidade e qualidade de trabalho foi possível alcançar esses resultados. Todos nós aprendemos que a palavra profissional era uma questão de atitude e a folha do nosso salário indicava zero como retribuição. Pode dizer-se que nesse tempo éramos um grupo unido, alegre, divertido e com objectivos bem definidos, o que permitiu cimentar muitas amizades que perduraram ao longo do tempo. No seguimento da sua carreira, Jorge Araújo sempre defendeu o profissionalismo. Posso dizer que sempre concordei com o espírito da ideia, mas nunca deixei de ter os pés bem assentes no chão quanto ao país em que vivemos, quanto ao seu modelo desportivo e, por fim, quanto ao seu modelo sócio económico. Daí eu por exemplo ter sempre defendido que deveria haver um limite de estrangeiros, bem como orçamentos sérios. Num país tão débil como o nosso, não ter feito formação e não ter dinheiro para fazer contratações no exterior levou a um envelhecimento dos principais jogadores do nosso campeonato, da Selecção, da diminuição do nível competitivo e do espectáculo oferecido ao público consumidor do jogo de basquetebol. Os jogadores que ainda hoje fazem parte da Selecção Nacional são aqueles que treinaram profissionalmente, que tiveram experiência internacional pela possibilidade de representarem equipas estrangeiras ou pelas participações em competições europeias. Só por isso é que foi possível chegar a este patamar de competição. Contudo, neste momento, e sem uma selecção B que tivesse vindo a trabalhar duma forma constante e consistente, parece-me que os objectivos a curto prazo vão ter de ser pequenos tudo apontando para um vazio durante vários anos. Até porque se analisarmos os plantéis das equipas que disputaram e que ainda estão a disputar o Campeonato da Europa, concluímos da existência de diversos jogadores que jogam ao nível da NBA e de campeonatos de referência na Europa. Portugal não tem, nem se perspectiva que venha a ter num futuro próximo. A componente física do jogo ganhou um peso muito grande, em termos de estatura, velocidade e força. Todas as selecções possuem diversos jogadores com mais de 2,10 metros e muitas vezes com mais de 2,15. Não temos esse tipo de jogadores, pelo que é necessário que os nossos jogadores tenham determinadas competências técnicas e físicas que permitam bater-se perante este tipo de adversários. Para que isso aconteça é necessário treinar, treinar muito e treinar bem, isto é, muitas horas, com bons treinadores de formação e treinadores competentes na competição, sendo que o factor tempo aqui é determinante. Por fim gostaria de abordar a questão dos estrangeiros, que por vezes é referida como negativa. Mas será que é realmente assim? Noutros países europeus esta questão não se tem colocado. Inglaterra, Alemanha, Espanha, França (melhores colocadas no ranking europeu) e outros não têm colocado esta questão. O futebol não tem tido problemas de resultados ao nível de clubes nas competições internacionais e ao nível da selecção sénior. A questão coloca-se na filosofia que cada competição deve apresentar. Por exemplo, se a competição Proliga é para dar experiência aos jogadores portugueses, então deve permitir-se dois estrangeiros? Esta questão já foi levantada por mim aquando do nascimento desta competição, numa reunião de clubes em Aveiro há muitos, muitos anos... Qual o objectivo da Proliga? Não basta criar uma competição, tem de se saber para quê. Quem são os seus intervenientes, quem são os seus jogadores, quem são os seus treinadores, quem são os seus árbitros, os seus públicos, etc.. No que diz respeito à LPB deve-se encontrar um equilíbrio entre jogadores portugueses, estrangeiros, equilíbrio financeiro dos clubes, espectáculo, qualidade do trabalho diário, promoção das equipas, promoção da competição, etc., e para que isso aconteça temos de ter jogadores e treinadores de qualidade. Só com qualidade é que podemos chegar ao patamar seguinte, só com trabalho de qualidade os jogadores e as equipas podem melhorar e a competição ser melhor. Ser melhor proporciona melhor espectáculo e traz mais espectadores. Será possível encontrar esse equilíbrio? O presidente Mário Saldanha é um homem do basquetebol e penso que posso afirmar que ele quer o bem da modalidade. Assim, o que está em causa é uma visão do basquetebol e como poderemos atingir um patamar superior de qualidade. Posso dizer que em 2007, depois de ter observado uma competição para jovens chamada Competição do Eixo Atlântico, promovi uma reunião a título e por iniciativa pessoal com todos os clubes da Galiza tendo-lhes colocado a questão da sua disponibilidade de competirem com equipas portuguesas, aproveitando o chamado Eixo Atlântico. A resposta foi positiva e de tal conclusão dei na altura conhecimento ao Presidente Mário Saldanha. Esta teria sido uma competição deveras importante para o basquetebol nacional numa altura que já sabíamos que a qualidade estava a diminuir. Infelizmente nada foi feito. Como referi sei que o Presidente da FPB é uma pessoa do basquetebol e que quer o bem do basquetebol, não é isso que está em causa, julgo, então, que Mário Saldanha terá de se rodear de pessoas conhecedoras, competentes, audazes, inovadoras e profissionais para assumir as decisões urgentes que se exigem. Aproveito para lançar um apelo ao prof. Jorge Araújo, ele que foi sempre um democrata: quando convocar uma Assembleia Geral da FPB, não o faça para um dia de competição, pois quem estiver a competir não poderá comparecer e dar o seu contributo para a discussão de um basquetebol melhor, bem como defender os seus legítimos interesses na Assembleia Geral da FPB.