Pages

Tuesday, January 17, 2017

O marketing e o número de adeptos

Nos últimos dias fui alertado por amigos para ler determinadas publicações no Facebook que tinham como denominador comum o foco no tema “número de adeptos ou público que se deslocam aos eventos desportivos, nomeadamente, pontos altos de basquetebol”.  

Para enquadrar o tema, gostaria de começar por relatar uma história em que estive envolvido. Em 2014, assisti pela primeira vez – e até agora única ocasião –, às Festas do Basquetebol, em Albufeira. Estando a ver os jogos das finais no último dia (domingo de manhã) e com o pavilhão praticamente lotado, disse a um amigo meu: «E se aproveitássemos este evento para fazer uma análise de marketing research? Qual seria o resultado desta análise em termos de número de adeptos, público que adere a este evento?»

Para fazer este estudo iria agarrar num megafone e pedir a todos os treinadores, dirigentes, médicos, fisioterapeutas e outras pessoas de cada delegação para saírem do pavilhão. Depois, o mesmo pedido dirigido a juízes e oficiais de mesa, comissários, elementos da organização e voluntários. Idêntica solicitação para mães, pais, irmãs, irmãos, namoradas/os, avós, avôs, tias, tios, primas, primos, amigas/os e outros parentes. Mais tarde, o mesmo pedido às pessoas da organização e, por fim, seriam as forças da autoridade a abandonarem o pavilhão.

Desta forma, se veriam quantas pessoas se teriam deslocado a Albufeira unicamente para verem a Festa do Basquetebol e poderíamos concluir que o número era… X.

É natural que alguns já estejam a pensar que sou maluco... Estava simplesmente a fazer algo que devia ser feito na gestão do basquetebol ao fazer uma análise de marketing research (investigação de marketing), isto é: quantos adeptos, público estavam a ver as finais da Festas de Basquetebol 2014.

Com esta garantia dada por mim, vou prosseguir o meu raciocínio.

Todos sabemos que uma fase final de jovens tem um enquadramento social, afetivo diferente de um jogo de seniores (masculino ou feminino) e, por isso, um pavilhão lotado não é nada de estranhar, antes pelo contrário, até porque a dimensão dos recintos usados para este tipo de eventos ajuda a dar essa imagem.

Contudo, longe vão os tempos em que um jogo de basquetebol de seniores era somente uma competição entre duas equipas.

Hoje, quando as pessoas se deslocam ao pavilhão para assistirem a um jogo de basquetebol vão na esperança e com o propósito de verem um espetáculo de entretenimento, que, por acaso, é um jogo de basquetebol. Podia ser outro desporto ou outro tipo de espetáculo, mas não. O que querem ver é um jogo de basquetebol entre duas equipas, com mais jogadores portugueses ou mais jogadores estrangeiros? (não sabemos…), com muitos ou poucos cestos (não sabemos…), com preços caros, baratos, ou entrada gratuita? (não sabemos…) E é aqui que esbarramos num dos problemas do basquetebol português. Talvez o principal problema!

Acerca do marketing, a American Marketing Association define-o como a atividade conjunta de instituições e processos para criar, comunicar, entregar e trocar ofertas que têm valor para consumidores, clientes, parceiros e sociedades em geral (aprovado em julho de 2013). Kotler, um dos gurus desta área, diz que «o marketing envolve a identificação e a satisfação das necessidades humanas e sociais».

Associadas a esta definição, temos algumas especificidades do marketing desportivo, tal como a incerteza do resultado ou a necessidade de as organizações lutarem pela vitória nas diversas competições, apesar de, ao mesmo tempo, terem o dever de proteger a sua marca individual mas estarem unidas na defesa do produto que deveriam poder vender, porque têm interesses comuns.

Ora, o gestor de marketing não é ouvido para definir os quadros competitivos (fórmula de disputa, número de equipas, número de estrangeiros, qualidade dos pavilhões, qualidade das bolas,  negociação de patrocínios, organização de eventos, até a escolha do selecionador nacional pode ser equacionada pelo mkt, etc.). Pergunto: então, qual o motivo de se falar tanto em marketing no basquetebol português? Porquê que se diz que o basquetebol português precisa é de marketing?

O que o basquetebol precisa é de um plano estratégico de gestão desportiva, e de gestão de marketing e comunicação, e isso só pode ser feito com todas as pessoas envolvidas, nomeadamente as organizações desportivas. Não pode ser só a FPB a ter uma visão. É preciso que essa visão esteja de acordo com as organizações desportivas (clubes) e que seja exequível, levada a cabo por pessoas competentes, de reconhecida competência profissional e que tenham paixão pelo basquetebol.

Também ajuda um bom plano de comunicação, que ajude dar visibilidade à gestão desportiva e gestão do marketing, tendo por isso de estar alinhada não só com as diferentes áreas de gestão mas também com as diversas organizações que compõem o quadro competitivo a que se refere.

Sobre este tema, eu próprio já apresentei há algum tempo um plano de comunicação à FPB, que foi, posteriormente, apresentado no Fórum Basquetebol Primeiro. Fico muito satisfeito que algumas das medidas apontadas estejam a ser, neste momento, colocadas em prática, embora sem ser pela equipa de trabalho que a apresentou e da estratégia à qual estaria subjacente.

António Pereira