A oportunidade de ler os
textos divulgados pela Federação
Portuguesa de Basquetebol (FPB) no seu sítio, sobre a temática da proposta
de alteração dos quadros competitivos,
leva-me a desenvolver as seguintes considerações, que são o meu contributo para
este tema.
Um
quadro competitivo é composto por jogos, visa o desenvolvimento
desportivo enquadrado numa lógica global e multidisciplinar e envolve também organizar
um jogo de basquetebol. Que é o mesmo que organizar um evento. Como tal, deve ser pensado, planeado, executado e no
final avaliado.
O desenvolvimento do
evento tem como objetivo atrair pessoas,
sendo que se no passado tinha muito de afetivo pelo sentimento de pertença a um
clube, hoje, além deste sentimento tem de se ter em consideração a qualidade do evento, do valor do
conteúdo da experiência que oferece aos
adeptos/fans, se pretendemos que
os adeptos/fans se disponham a ir ver
o espetáculo desportivo e regressem. Então, temos de ter contribuir para uma
experiência única em cada jogo. Facilmente concluímos, pois que o jogo (desde as concentrações de
minibasquete á final da LPB) é muito mais
do que o simples meter a bola no cesto.
Sem gerar conteúdos que atraiam, retenham e satisfaçam o adepto/fan, qualquer evento, seja de que
tipo for, estará certamente destinado ao fracasso.
No que diz respeito à
gestão desportiva temos de ter em consideração que qualquer alteração aos quadros competitivos terá de estar de
acordo com uma visão estratégica da
modalidade e não devem ser alterados simplesmente para se mostrar que se
quer mudar.
Compreendo e aceito as
preocupações de clubes, associações, direção técnica da FPB, direção da FPB, mas
sem dados objetivos que possam ser comprovados será difícil uma tomada de
decisões que tenham em conta as respostas às necessidades sentidas pelos diversos
agentes da modalidade.
Para além da visão
estratégica precisamos de saber:
- Objetivos gerais de uma
determinada competição (quadro competitivo);
- Objetivos específicos
de uma competição (quadro competitivo);
- Recursos humanos que
permitam desenvolver a competição nomeadamente número de atletas;
- Número de atletas;
- Número de jogadores
internacionais;
- Qualidade dos atletas;
- Como estão distribuídos
pelos clubes;
- Número de treinadores;
- Qualidade dos treinadores;
- Qualificação dos
treinadores;
- Número de clubes;
- Localização geográfica
dos clubes;
- Relação de árbitros,
oficiais de mesa e comissários – ter em conta o número de juízes disponíveis a
nível nacional e regional, o custo de cada equipa arbitragem por jogo, a sua
implicação no espetáculo desportivo pela qualidade demonstrada ou pela falta
dela, que prejuízos pode advir para a formação do jogador;
- Recursos financeiros necessários
por parte dos clubes para participar num determinado quadro competitivo;
- Disponibilidade de pavilhões,
qualidade das instalações desportivas (quentes/frios), números de horas de treino
de cada equipa, condições para a realização de um jogo, condições para o
público e para os parceiros/patrocinadores;
- Que público temos?
Sabemos quantos espectadores assistem ao evento que é um jogo da LPB? E da
Proliga? E da Liga Feminina? E dos campeonatos regionais ou nacionais de
formação? E na Festa do Basquetebol? Que basquetebol aspiram os adeptos/fans a ver? Qual é a média de idade dos
espectadores dos eventos do basquetebol? E o género? Ouvimos os nossos adeptos/fans? Temos em conta a opinião dos
possíveis parceiros?
- Existe um plano de marketing
e comunicação de cada competição (quadro competitivo)? Existe um plano de
marketing e comunicação da organização (FPB)?
Num mundo tão
competitivo, no qual as ofertas de eventos e a luta por parceiros, financeiros
ou de outra índole, é enorme, uma das diferenças que a FPB pode ter como organização é a capacidade de inovar aos diversos níveis sendo que os quadros
competitivos podem e devem ser uma das áreas de intervenção.
Contudo sem que estes
sejam vistos como parte da visão estratégica da direção da FPB podemos não ter
em conta que estão a contribuir para quadros competitivos pouco aliciantes, não indo ao encontro das expetativas dos diversos
stakeholders, desajustados, e até
injustos para os participantes.
Não tenho quaisquer
dúvidas que os eventos de índole desportiva fazem parte cada vez mais parte da vida
das pessoas, dos adeptos/fans, e
dessa forma temos de criar laços
emocionais e interagir com os nosso adeptos/fans,
mas são igualmente apetecíveis para as
marcas que aproveitam para criar
laços de afetividade com os adeptos/fans.
A questão que se coloca é como tornar um
evento de basquetebol e que faz parte de um quadro competitivo, algo de fantástico, com emoção, competitivo
e que faça com que o adepto/fan tenha
vontade de voltar ao mesmo ao pavilhão.
Por isso, antes de
proceder a qualquer tipo de alteração precisamos
responder às seguintes questões:
- Alterar porquê?
- Alterar para quê?
- Que impacto terá no
basquetebol na próxima década?
Coimbra, Fevereiro, 25,
2016
António Pereira