Pages

Friday, September 5, 2014

A evolução da FIBA e o futuro da FPB


À margem do Campeonato Mundial de Basquetebol, que decorre em Espanha, a FIBA e a FEB têm demonstrado intensa atividade, numa manifestação inequívoca de que estão vivas, apresentam dinamismo, percebem o que as rodeia e, igualmente significativo, que procuram melhorar as suas estruturas e imagens para serem mais sólidas no futuro, evitando ver o seu espaço ocupado por outra atividade. Estes sinais confirmam que o basquetebol tem futuro.

As 11 reuniões realizadas pelo Comité Central da FIBA no quadriénio 2010/2014 foram fundamentais para definir e monitorizar a estratégia para o basquetebol no planeta, num movimento que recebeu o acompanhamento das diferentes organizações FIBA continentais. Quem observa basquetebol à escala máxima e numa visão de 360 graus verifica que, efetivamente, existe evolução, não percetível a quem vive a modalidade exclusivamente na sua base e em Portugal.

A FIBA estabeleceu, entretanto, um protocolo de cooperação com uma empresa americana cujo objetivo é a de esclarecer e alinhar a sua própria estrutura de acordo com a estratégia pretendida, bem como implementar alterações às prioridades anteriormente definidas. E que são quatro:
1 – Alterações à estrutura da FIBA
2 – Construção da casa do basquetebol (pretensão cumprida na primavera de 2013)
3 – Desenvolvimento do 3x3
4 – Implementação de uma nova calendarização das competições internacionais de seleções para entrar em vigor a partir de 2017

Conclui-se, perante estes dados, que a FIBA está disponível para implodir conceitos já fossilizados nos seus regulamentos e outros com pouco mais de uma década e adotar iniciativas mais modernas, satisfazendo as necessidades dos desafios que se aproximam e adaptando-se à evolução da sociedade. Por exemplo, aquilo que era apenas um desporto, passou a ser também um modo de vida e um negócio. E a FIBA adaptou-se.

Mas neste percurso evolutivo que todos assistimos, surgem, também, algumas armadilhas, já muito expostas noutras modalidades, naquelas em que o vínculo ao negócio está mais próximo, casos do ciclismo e futebol. A procura por dinheiro fácil promoveu e sustentou negócios paralelos e esquemas fraudulentos associados ao doping e aos jogos de resultados viciados para as apostas. O basquetebol estará imune a estes tormentos? Pelos vistos, não.

Apesar de não ser um assunto incómodo, como o é para o ciclismo, a FIBA pretende ser proactiva sobre o doping, tendo definido o programa ‘Joga bem, mas joga limpo’, entretanto adotado para este Mundial. Para isso, desde janeiro que foram tomadas medidas para assistirmos a uma competição limpa e à chegada das diversas comitivas aos hotéis em Espanha foram recolhidas amostras sanguíneas e de urina dos basquetebolistas para permitir, também, a elaboração dos passaportes biológicos individuais, numa ação que conta com a estreita colaboração de vários organismos nacionais de anti-doping.

A FIBA sabe que a modalidade só sobrevive e é potencialmente atrativa para patrocinadores e investidores se for credível e transparente aos olhos da opinião pública e da Imprensa. Ao mesmo tempo que o basquetebol evolui, nunca se pode descurar a credibilização do desporto, das suas regras e dos seus principais agentes. É crucial esta ideia e passá-la para o exterior.

Do ponto de vista da comunicação e imagem, a FIBA deu mais um passo francamente evolutivo ao estabelecer um acordo com a rede social Twitter, válido para os Mundiais masculino (Espanha) e feminino (Turquia). A acompanhar esta inovação, surgem as aplicações para os sistemas Android e iOS, também para acompanhamento em tempo real dos jogos. A FIBA reconhece que, na atualidade, para além da Imprensa escrita e televisões, o seu produto tem de chegar ao consumidor por outras vias. Vivemos numa sociedade ‘mobile’ e global, na qual os ´smartphones’, ‘tablets’ e as redes sociais assumem um papel vital.

Transmitir uma mensagem positiva é essencial numa iniciativa desta amplitude e isso mesmo é reconhecido pelo presidente da FEB. Na cerimónia de receção aos voluntários, José Luis Saez sublinhou que o mais importante era a marca Espanha sair beneficiada deste Mundial, deixando um legado e transferência de conhecimento, mais do que uma possível final Espanha-EUA. Com isso, acrescentou responsabilidade ao papel dos voluntários. O secretário de estado do desporto espanhol, Miguel Cardenal, acrescentou que em Espanha as pessoas vibram com o desporto e que os voluntários tornam isso possível. Isto significa, também, que para atingir os êxitos é necessário que as pessoas e as instituições sejam geridas com paixão.

Em Portugal, é essa paixão e dedicação que os dirigentes da nova estrutura federativa devem ter, para despertar a paixão nas direcções associativas regionais, nos clubes, noutros agentes desportivos e nos diferentes amantes da modalidade. Para isso é fundamental alinhar a estratégia desportiva à política de comunicação, num exercício sustentado em estudos que indiquem quais os problemas existentes e perspetivem os caminhos a percorrer. Só a congregação das pessoas do basquetebol à volta de um projeto nacional será possível catapultar o basquete para o lugar que esteve e que pode vir a estar. Há que seguir as pisadas da FIBA…


António Pereira