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Saturday, November 30, 2013

AAC - O interrompimento de um percurso


Queria começar este texto por me apresentar. O meu nome é António Pereira, comecei a jogar basquete em 1969, tendo tido como primeiros treinadores os-jogadores Reis Pires e o Carlos Hilário. Fiz um trajecto de praticante na AAC até Junho/Julho de 1974 passando a representar nessa altura o Clube Académico de Coimbra onde me sagrei campeão Nacional em 1978 e 1979 e vice-campeão em 1977. Deixei de jogar em 1981, altura em que ingressei na Escola de Fuzileiros Navais. Depois de regressar do meu período militar passei a exercer as funções de treinador o que já fazia aliás, estimulado pelo ambiente que havia nessa altura e que envolvia as pessoas na secção na sua vida. Em 1991 fui o treinador principal da equipa sénior da AAC que se sagrou campeão Nacional da II Divisão (segundo nível de competição em Portugal na altura).
Embora a minha actividade profissional seja regulada pelo decreto lei nº 28/1998 e que me impede de exercer qualquer actividade no basquetebol para além da que exerço, não posso e nem devo deixar de ter uma opinião sobre o que se passou e se está a passar na AAC-secção de basquetebol, porque, foi onde eu recebi ensinamentos que contribuíram para eu me formar como homem, e sempre esperei que a secção continuasse a dar esse contributo aos jovens que por lá passassem, e também porque este ciclo começou com o Dr. Cassiano Afonso e pelo apelo que me fez á cerca de dez anos atrás de que era o de tornar a secção de basquetebol uma secção com a dimensão que a sua história exigia.
Ao longo destes quase dez anos nem sempre me mantive por perto. Alguns anos nem sequer entrei no pavilhão. Lembro-me que o meu filho que este ano voltou a jogar, a convite de alguém, me perguntou no inicio da época se este era um dos anos que vais ao pavilhão ou dos anos que não vais ao pavilhão ?
Feita esta introdução passava aos temas que gostaria de abordar, visto que já se escreveu muita coisa, deram-se muitas opiniões e eu quero aqui deixar a minha.m
Um pouco de história: a secção de basquetebol da AAC é uma das mais prestigiadas da Académica. Para isso muito terá contribuído os seus títulos de campeão nacional quer no sector masculino quer no sector feminino mas também pelo nível de organização que teve. Tenho que os dirigentes e treinadores da AAC, sempre foram bastante competentes e exigentes com a qualidade que pretendiam que a AAC tivesse nos mais diversos níveis. Por isso desde os anos 70 que a secção foi obrigada a recorrer a pavilhões externos ao Estádio Universitário porque essas instalações já não eram suficientes na altura, para o melhoramento das suas equipas. Mais tarde passou-se a usar o OAF, fruto do protocolo que havia. Aquando da eleição do presidente José Eduardo Simões, o basquete acabou por ter de sair destas instalações porque foi empurrado de lá para fora ao não lhe serem atribuídas nem horas suficientes de treino, nem em horas decentes. Graças á CMC o basquete passou a utilizar o novo pavilhão embora haja sistematicamente constrangimentos de uso devido á organização de eventos nesse espaço, o que leva a que a equipa não treine amiúdes como é exigido. Em 1991 utilizou-se o Estádio Universitário (quando eu era treinador) mas os obstáculos eram enormes, tais como não se podia treinar porque os funcionários estavam de férias, ou amanhã não se pode treinar porque é feriado, etc. Nenhuma equipa de competição pode estar condicionada por situações destas.
Devido a situações como estas o orçamento da secção de basquetebol da AAC aumentou consideravelmente. Claro que as outras secções desportivas e departamentos autónomas da AAC não tem culpa da ambição dos dirigentes da AAC, nem tem culpa de que eles queiram fazer algo em que acreditam como mais válido, mas esta foi uma realidade que não deixa de ser verdadeira.
Dividas: Para além do que se sabe publicamente sei pouco mais. Mas até por forma a não se colocar no mesmo barco todos os dirigentes, era conveniente que a DG (Direcção Geral da AAC), CD (Conselho Desportivo da AAC) e CF (Conselho Fiscal da AAC) e por ventura ex-presidentes, esclarecessem as contas com pormenor nomeadamente quanto ao valor da divida apurada e discriminá-la ano por ano por forma a sabermos quem foram os responsáveis por ela. Ainda ontem o ex-presidente Carlos Gonçalves fazia declarações num órgão de comunicação social em que afirmava que o passivo era quase o mesmo que tinha encontrado. Depreendo portanto que na época de 2012/2013 as contas não derraparam significativamente. Aquando da saída do ex-presidente Mário Castro (geriu a época de 2011/2012) afirmou no seu profile do facebook que deixava a secção sem dívidas e não foi contestado, embora se soubesse na altura que isso não era verdade. Assim a divida é de que ano ou anos ? quem foram os responsáveis ? como é que cada um contribuiu para esse valor ? só dessa forma é que poderemos saber como é que que cada direcção contribuiu para o valor tornado agora público e que se cifra entre duzentos e cinquenta a trezentos mil euros.
É obrigação da DG o CD e CF, esclarecer esta situação para que se faça justiça aos bons e imputar responsabilidades aos maus dirigentes. É um dever na minha opinião. Ainda sobre este assunto devem os estatutos da DG, serem alterados para que as contas sejam entregues a zero no fim do mandato e recebidas a zero pela nova direcção de cada seção ou departamento autónomo, contribuindo assim para uma melhor imagem da AAC e para uma sustentabilidade da Associação Académica de Coimbra.
Gestão Desportiva-época de 2013/2014: A opção estratégia de um departamento de basquetebol deve estar em consonância com uma filosofia de gestão mas também com os apoios financeiros existentes. Quando existe uma divida de muitos milhares de euros e não há apoios financeiros é claro para mim que a opção estratégia de continuidade de uma equipa só podia dar em problemas e não era realista e isto foi o que feito na secção de basquetebol da AAC pelos dirigentes actuais João Bigotte e José Luis Gonçalves. Foi negociado um orçamento e prometeu-se a vinda de x jogadores seniores e de x jogadores estrangeiros.  
A pergunta é como isto é possível se não há dinheiro ? Não seria mais correcto dizer aos treinadores (Jacinto Silva e Paulo Santos) e aos jogadores seniores que restaram da época passada e que são pessoas de referência na AAC (Fernando Sousa, Bruno Costa e Pedro Rebelo) que não havia dinheiro e portanto não era possível dar continuidade á ideia que o actual presidente escolheu.
E é precisamente por aqui que as coisas se complicaram. Quer treinadores quer jogadores nunca estiveram motivados para um outro tipo de projecto e nunca lhes foi dito que era assim ou teriam de romper a relação porque não havia condições. Foi sempre dada a ideia de que se ia resolver a situação e isso nunca aconteceu.
Era da responsabilidade dos dirigentes da secção de basquetebol da AAC, João Bigotte e José Luis Gonçalves, redefinirem a sua estratégia, e dá-la a conhecer aos interveniente, deixando que estes tomassem a decisão quanto ao seu envolvimento. Isto permitiria que todos os que dissessem sim estivessem no barco de livre e espontânea vontade, e embebidos de um espírito de ajuda e solidariedade entre eles ou que saíssem. Ora isto não aconteceu e a culpa é única e exclusivamente dos dirigentes da secção de basquetebol.
Aliás sabendo das dificuldades financeiras da secção eu próprio, juntamente com o ex-jogador Zé-To Gaspar, ex-dirigente João Medeiros e ex-dirigente João Pedro Chicória tomamos a iniciativa de angariar algum dinheiro para a secção de basquetebol, através de um envio de email para pessoas com passado ligado á AAC, e que foi então mal recebida pelo actual presidente da secção. Pensamos nós na altura que todo o dinheiro era bem-vindo mas não. Fomos enxovalhados publicamente e colocada a nossa dignidade e honradez em causa. Para quem tinha arranjado zero e arranjou zero, devia ter sido mais bem-educado e mais bem agradecido. Continuo e continuamos á espera de um pedido de desculpa público com o mesmo relevo com que foi dado na altura aquando dessa iniciativa. Foi ainda contactada a Escola Superior de Educação para que pudesse ser colmatar a falta de recursos humanos da secção, no sentido de saber se estava disponível para estabelecer um protocolo com a secção de basquetebol da AAC, no sentido de ter ao seu dispor alunos de diversos cursos para operacionar um gabinete de comunicação e marketing. A resposta foi positiva mas nunca foi colocada em prática pelos actuais dirigentes.
Quanto á formação o panorama é ainda pior. Duas faltas de comparência, uma no sector masculino por falta de transporte, e uma no sector feminino por falta de jogadores em número suficiente para inscreverem no boletim de jogo. Pelo meio fica o episódio da marcação de dois jogos com uma hora de intervalo, o que não é suficiente como se sabe, e sem boletim de jogo o que não é possível face aos regulamento do material necessário para a realização de um jogo. Quanto aos minis, a situação é caótica. Gerida por uma instituição (Caspae) que os pais nunca aceitaram, nunca foi bem gerida de forma satisfatória, e custa dinheiro á secção. Assim, devido á desorganização da secção (porque a empresa representa a secção neste caso) saíram dezenas de atletas que se encontram a treinar no pavilhão do OAF em representação de outro clube (ainda bem que não deixaram a prática da modalidade) e com as tabelas da AAC (ironia do destino).
Oportunidades: Quando elementos do governo disseram que a crise era no fundo uma oportunidade, ou que os jovens deviam imigrar e que isso era uma janela de oportunidades o que é que aconteceu ? todos disseram para serem eles a imigrar. Agora porque razão o acabar com uma equipa é uma oportunidade ? Oportunidade de quê ? oportunidade para quem ? É claro que o que se passou na secção de basquetebol não é condizente com uma prática de gestão desportiva responsável mas acabar com uma equipa não é igualmente uma atitude responsável na minha opinião, pelo menos nas circunstâncias que esta ocorreu porque só ocorreu por falta de coragem e de diálogo na colocação em prática de uma estratégia de gestão realista e em consonância com os valores da AAC.
Responsabilidades: No dia de acção de graças, que os americanos celebram como a reunião da família, foi a família do basquetebol confrontada com mais uma decisão que andava no ar.
Que ninguém deite as culpas á DG e ao CD que no fundo cumpriram com aquilo que disse que podia acontecer. Que ninguém deite igualmente as culpas á FPB que peca apenas por falta de adequação dos seus regulamentos quanto ao montante financeiro que uma equipa precisa de ter (cerca de cinquenta mil euros) para disputar uma competição tida como amadora-Liga Portuguesa de Basquetebol. As responsabilidades são de quem dirige e que não soube assumir esse papel.
 Acerca disto tudo o que mais me entristece mesmo é, que o basquetebol por todo o mundo continua em expansão, a sua visibilidade é enorme, a adesão ao jogo é extraordinária, e só em Portugal é que continuamos a não fazer nada em família para ultrapassarmos as dificuldades que nos são colocadas e prestigiar a nossa modalidade. Os problemas da modalidade passam pela resolução dos problemas nos clubes, depois ao nível dos clubes da mesma associação, sendo que a FPB deve e deverá ser a locomotiva que puxa este comboio esperando-se dela que seja máquina de um comboio TGV e não uma locomotiva a vapor porque os tempos de hoje são outros e as soluções para as resoluções podem e por certo que são diferentes.
O meu coração, que no passado já sofreu, hoje jorra lágrimas de dor por mais esta machadada no amor da minha vida.