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Sunday, November 2, 2014

Um passo de gigante e um passo de caranguejo


1. As competições de clubes já começaram um pouco por todo o Mundo. Passos de gigante têm sido dados em várias vertentes, nomeadamente na área do marketing e comunicação em diversos campeonatos que, infelizmente, não o de Portugal.

Ao abrir o sítio da FIBA somos informados sobre o número de pessoas que seguem a sua página através das redes sociais Twitter, Facebook, Youtube, e Mobile App. O mesmo sítio dá-nos ainda a possibilidade de subscrever a sua newsletter diária.

Em Espanha, nomeadamente a Liga ACB, acabou com o seu famoso guia da ACB. Melhor dizendo: acabou em papel e passou a ser exclusivamente digital, sendo que desta forma passou a estar disponível para muitas mais pessoas, em todo o Mundo, de forma gratuita e ecológica. Não é por acaso que a ACB quer afirmar-se como o segundo campeonato mais importante do Mundo, logo a seguir à NBA.

Ao nível da NBA, as notícias são demasiado importantes para passarmos ao lado delas. As equipas da NBA bateram o recorde de vendas de bilhetes anuais de ingressos. Para isso muito contribui o departamento de marketing de cada organização desportiva, que trabalham a sério, quer seja na rua, quer ao telefone a vender o seu produto.

Ainda ao nível da NBA, o número de atletas internacionais ultrapassou o número 100. Isto significa que, potencialmente, haverá mais pessoas espalhadas pelo planeta a ver jogos da NBA.

Steve Ballmer, ex-CEO da Microsoft que recentemente comprou os Los Angeles Clippers, está a fazer tudo o possível para que a interação com o público seja uma mais-valia para o espetáculo desportivo da sua equipa e por isso vai lançar uma aplicação onde os espetadores podem escolher a jogada que querem ver a ser repetida no marcador eletrónico e onde aparecerá o nome do contemplado.

Para mim, a publicação do vídeoclip Together, (http://www.youtube.com/watch?v=n6S1JoCSVNU&feature=youtu.be) sobre o regresso de Lebron James, aos Cleveland Cavaliers e á cidade de Cleveland vai ficar para a história do marketing desportivo pelo impacto que teve ao nível da sua comunidade e ao nível global. Se ainda não viu não perca.

2. Por cá, em Portugal, os passos não são de gigante. Nem perto nem de longe.

Um dos temas quentes é a estatística. Será que não conseguimos fazer a estatística de um jogo e colocar a informação online? É difícil de acreditar mas parece que é uma realidade. Por vezes, até saber os resultados dos jogos é difícil. E porquê? Já vi diversos jogos do sector feminino onde as equipas nem sequer apresentam 10 jogadoras (foram vários e locais diferentes do país e clubes diferentes). Não é este o sector de referência em Portugal para o nosso basquetebol?

Neste fim de semana, mais uma vez algumas competições não tiveram jogos, as equipas da 1ª divisão (terceiro nível competitivo - detesto mesmo este escalonamento de nomes) vão ficar sem jogar bem como as equipas de formação, motivo: há uma reunião de árbitros. Coitados dos dirigentes, dos treinadores e jogadores. Eles que pagam para jogar têm de parar para haver uma reunião de árbitros, que são pagos para desenvolver a sua função.

Quanto ao tema eleições para a Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB) parece que é um assunto que não tem suscitado um grande interesse público. Muito por culpa da letargia que a modalidade vive, pela forma como os envolvidos escolheram fazer as suas campanhas. Isto é, um tour pelas diversas associações do país onde poucas são as presenças. A ausência de um debate de ideias é significativa. E prenuncia que dificilmente algo será mudado na gestão da FPB.

Todos sabíamos que as eleições seriam entre o mês de Setembro ou Outubro. E que duas pessoas se perfilaram como candidatas.

Não é assim aceitável que não estejam preparadas, que não tenham constituído as suas equipas de trabalho a tempo e horas e divulgado, que não tenham um programa, que não tenham soluções, que não tenham recursos para os diversos dossiers.

Não é aceitável que somente apresentem desculpas, alegando que não se sabe como resolver o problema ou a crise. A crise pode condicionar mas não é aceitável como desculpa. Até será descabido, porque a maior parte das pessoas não anda basquetebol por dinheiro, ainda que, na minha opinião, a FPB deva ser dirigida por profissionais.

Por isso, precisamos de pessoas com competência, disponíveis e apaixonadas pelo basquetebol. Pessoas que pensem o basquetebol durante as 24 horas do dia. Que acordem a pensar basquetebol, que passem o dia a trabalhar e a pensar basquetebol e que durmam a sonhar basquetebol.

Não precisamos de pessoas que tenham a sua vida de tal forma ocupada que ainda vão ter de se preocupar com o basquetebol, modalidade que, porventura, lhes deve dizer muito, mas que exige deles mais do que podem dar infelizmente.

Uma outra preocupação e até surpreendente são que o sector de marketing e comunicação esteja completamente ausente do lote dos vice-presidentes de uma das listas. Não se percebe. Já ouvi dizer que essa função seria desempenhada por alguém de fora da federação e pro bono. Por favor! Quem paga as contas deles? Em muitos sectores, a “borla” e a “graça” significa muito pouco trabalho, pouco empenhamento. Espero estar enganado.

Da leitura da situação espera-se pouco de uma possível alteração de procedimentos. A FPB vai continuar a ser dirigida por três/quatro pessoas, que gerem o dia-a-dia e que já lá estavam, e essa não é a minha visão nem de muitas outras pessoas.

Como tal, pode significar a possível continuidade daquilo que foi feito, a preocupação com o presente, e pouca atenção a uma perspetiva de futuro.

Dificilmente aceito que Mário Saldanha seja o único responsável de tudo o que se passou de mal na FPB. Sê-lo-á como líder, mas também fez coisas boas. É preciso saber honrar o passado, e isto é algo que nem todos sabem fazer. Distanciarmo-nos quando nos convém não me parece correto.

Espero que não cheguemos à situação de pensarmos que mais valia ter ficado Mário Saldanha. Pois o maior problema deste dirigente foi o de não saber rodear-se de pessoas competentes, disponíveis e profissionais.

3. Um alerta: espero que os delegados da Assembleia Geral da FPB não tenham jogos marcados para o dia das eleições. Seria uma vergonha para a modalidade.

4. Uma curiosidade: pensei em assistir a uma sessão de esclarecimento de candidatos à FPB numa associação. Fiz um contacto com um responsável. Disseram-me que a sessão não era pública. Será por coisas como esta que o basquetebol não é público?


António Pereira

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