Pages

Sunday, March 10, 2019

Vítor Campos – um rosto da marca Académica de outros tempos

A morte de Vítor Campos, um dos jogadores mais carismáticos e um dos maiores símbolos, hoje poderíamos dizer da marca, da Associação Académica de Coimbra (AAC ou simplesmente Académica) dos anos 60 e 70, fez tirar do baú um conjunto de reportagens televisivas transmitidas em diversos canais de televisão, bem como de memórias pessoais, dos tempos em que íamos ao velho estádio do Calhabé ver uma série de mestres no trocar a bola entre eles, numa identidade futebolística de modelo de jogo e de coesão que os diversos membros da equipa colocavam em campo, o que levava muitas vezes, quer a bancada dos estudantes, quer a bancada dos doutores a gritar «Olé! Olé! Olé! tal era a incapacidade de os adversários se oporem ou conterem este estilo de futebol. 

Quem não se lembra de histórias que se contavam e que muitos viram de que era necessário mandar a bola para fora para que a equipa adversária pudesse voltar a tocar bola? Lembram-se?

Na altura, a Académica era um clube sui generis, porque diferente em Portugal.

Quem vinha jogar para a Académica procurava uma formação académica e obtinha determinados privilégios por ser bom jogador de futebol ou ter potencial para o vir a ser.


Vítor Campos é um dos nomes de uma extensa lista de estudantes/atletas que se formaram naquela altura e que, quer no seu percurso profissional, quer mesmo no futebol, deram contributos importantes para a sociedade portuguesa.

No inicio dos anos 70, quando comecei a frequentar o ensino secundário de então e a jogar basquetebol, era normal vermos os jogadores de futebol da Académica na zona da Praça da Republica ou no Gil Vicente, sinal de envolvimento na comunidade estudantil e da cidade, bem como a ver jogos de outras modalidades da Académica, nomeadamente o basquetebol.

Contudo, o espirito da Académica dos anos 60, 70 e até 80 deixou de existir, por via da evolução da sociedade e do desporto em particular.

Hoje, um jovem atleta de futebol procura acima de tudo ser treinado por bons treinadores que o potencializem e um clube/equipa que lhe permita desenvolver e mostrar talento. Se tiver talento, pode construir uma carreira de sucesso e ganhar dinheiro ou muito dinheiro, tudo depende do nível de competição e de equipa que consiga atingir.

Num contexto social e desportivo diferente, onde as organizações desportivas estão inseridas numa indústria desportiva e de espetáculo, que Académica podemos ter no futuro?

Mas podemos e devemos ir mais além e perguntar o que é realmente a Associação Académica de Coimbra – Organismo Autónomo de Futebol e a sua SDUQ? Quais são as características da sua marca? Como se pode diferenciar dos outros clubes? Qual a consistência da sua mensagem? Qual a sua real ligação à comunidade estudantil? A cidade revê-se neste clube e equipa? Que potencial económico tem? Consegue sobreviver ou atingir um patamar de excelência ou de ótimo com um SDUQ ou terá de se constituir uma SAD onde a Académica detenha a maioria do capital?


Num momento triste para a história do futebol da Académica, para a família Campos, para o núcleo de veteranos de futebol da Académica uma boa homenagem que se poderia fazer ao grande Vítor Campos era que a Académica-OAF do século XXI fosse algo com que nos identificássemos e que voltasse a ser uma marca de referência na indústria desportiva.

Vítor Campos, obrigado pelas memórias que me deste e que permaneças em paz.

António Pereira
Ex-atleta de basquetebol da AAC e CAC

Ex-treinador da AAC

No comments: